sábado, 6 de junho de 2015

Grávidas Futebol Clube

E ai? Como está o feriadão de vocês?

Eu devo dizer que o meu está bem menos boring do que eu achei que estaria (thanks Michael) e até fiz algumas coisas interessantes (sim, todas envolvendo comida, mas vou fazer um post com minhas humildes sugestões de aventuras culinárias para o feriado) mas hoje, com tantos jogos esportivos acontecendo neste feriadão - seleção de vôlei, jogos variados de futebol - não pude resistir e vir comentar um pouco sobre o que é fazer parte do GFC - Grávidas Futebol Clube.


Sim. Você pode gostar ou não de futebol, mas se tem uma coisa que a gravidez tem em comum com este esporte é que a partir do momento que você recebe o positivo você vira automaticamente domínio público. Assim como a seleção canarinho.

Em quase todas as esquinas deste nosso Brasilzão existem vários técnicos/especialistas em futebol. Todos com opiniões e conhecimentos categóricos sobre a arte, o esporte, a técnica, o manejo, os atletlas, as estratégias, o mercado e coisas afim. Existe um sem fim de gente disposto a brigar com amiguinhos e coleguinhas por causa da marcação de um impedimento/penalti/gol contra. Todos com muita propriedade, pois são, como já disse, idiotas especialistas.

Quando você engravida, você descobre que em todas as esquinas deste nosso Brasilzão existe um número bem impressionante de obstetras, doulas e parteiras. É tanta gente especialista em gravidez que procurar um bom médico pra fazer o pré-natal, parece até desnecessário. Você está gerando uma vida, é uma coisa linda, mas de repente, não mais que de repente, tudo o que você faz se torna domínio público. As pessoas ao seu redor ganham, automaticamente, o direito de fiscalizar, julgar, cobrar e comentar cada ação do seu dia-a-dia.

A gravidez muda muito o corpo da gente. E essa mudança radical mexe com todos os aspectos físicos e psicológicos da pessoa. Como cada uma de nós, grávidas, temos contextos fisiológicos, psíquicos e sociais diferentes, era de se esperar que cada uma experimentasse esse período de maneiras únicas. E que suas percepções sobre este período também fossem diferentes. Mas não é o que acontece.

Existe sim um senso geral sobre o desenvolvimento de uma gestação e as etapas que são lugar comum à maioria, mas ainda assim, existem diversas situações que fogem à regra comum e que afetam um grande número de grávidas. Até aí, nada de novidade. O problema é, quando você entra pro time GFC, os "técnicos/especialistas" de esquina ignoram completamente todas essas particularidades.

Explico, da mesma forma que o técnico e os jogadores da seleção tem que atender as expectativas do público e são alvos de críticas/julgamentos/comentários etc de todos (mesmo que não diretamente), a grávida passa pelo mesmíssimo processo.

As pessoas tem expectativas com relação à gravidez.

Esperam que você esteja feliz o tempo todo. É maravilhoso gerar uma vida, como você pode chorar, rir e ficar irritada com qualquer coisa? Como você pode ter depressão? Por quê você foi grossa com a pessoa só porque ela falou que seu feto não vai sobreviver? Por quê você ficou chateada que ninguém se importou com a descoberta do sexo do seu bebê? Quanta frescura! Você deveria ficar feliz e ter paciência com as pessoas ao seu redor. Afinal, são elas que estão sendo bombardeadas por hormônios, tendo seus órgãos esticados/contraídos, enfrentando uma série de dilemas sobre a vida, e passando por uma série de outras coisas enquanto seus corpos geram uma outra pessoa. E esssas expectativas são vocalizadas com pouquíssimo, e muitas vezes sem nenhum, pudor.

"Você vai virar uma bola comendo assim!"
"Vai comer esse bolinho? Isso não é saudável!"
"Você está comendo muito pouco, esse bebê vai nascer raquítico!"
"Tá com enjôo? Tem que comer cream cracker e não pode beber água!"
"Tá com sangramento? Ih... vai perder/ se não der certo não deu/ relaxa, que se não der dessa vez é só tentar de novo."
"Tá preocupada/chateada/etc? Você tem que ficar calma e pensar positivo. Vai afetar o bebê."
"Tá de repouso? Que frescura! Tem que caminhar e fazer exercício pra melhorar."
"Tá de repouso? Que frescura! Minha mãe/vó/tia/amiga/vizinha trabalhou na roça os nove meses carregando peso e pariu dois/três/cinco/quinze filhos saudáveis."
"Tá lavando louça? Que loucura! Você vai matar esse nenê desse jeito."
"Tá estendendo a roupa no varal? Que loucura! Minha mãe/vó/tia/amiga/vizinha ficou fazendo serviço doméstico e perdeu o bebê/teve sangramento/ ficou a gravidez inteira de repouso!"
"Você (não) deveria estar subindo escadas/dirigindo/respirando/vivendo."
"Nossa que barriga enorme/pequena, tem certeza que é um só?/ que está de (tantos)meses mesmo?/ minha barriga/barriga da minha mãe/vizinha/sogra/amiga/conhecida era muito maior/menor nessa época."
"É menino(a) mesmo? Eu acho que é menina(o), esse exame deve estar errado."
"Deixa eu ver essa barriga direito." (e coloca a mão na barriga e/ou levanta sua blusa pra ver sua barriga).

Eu nem vou entrar na questão do que eu gosto de chamar de "a síndrome do receptáculo" (que é quando a grávida em questão deixa de ter vontades, direitos e autonomia por si só, e o bebê se torna única e exclusivamente importante) porque isso envolve discussões muito mais complexas que contemplam a questão do lugar da mulher na sociedade, e até que ponto ela é vista como um indivíduo autônomo pensante realmente. Hoje eu só gostaria de dizer ao Neymar, e meus seus colegas de seleção que: "Tamo junto!".

 E, se você já está aí do outro lado pensando: "Mas que frescura! As pessoas não podem nem participar/comentar/falar nada...", pode pegar sua pranchetinha e seu boné, hoje tem final da Champions League pra você cornetar à vontade!

Agora, se você que está lendo também faz parte do GFC e tem alguma "cornetada" que está te perturbando e gostaria de compartilhar, será o maior prazer te ouvir nos comentários! :)

Praqueles que não fazem parte do GFC e também não são do time da corneta, espero que sua leitura tenha valido a pena e a gente se vê mais tarde! ;)

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